quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O homem chocolate...

Anita era uma menina nascida no interior do Rio Grande do Sullll...
Estava rodeada de muita gente, muitos irmãos, muitos primos, muitos tios, muitos vizinhos... E todos, como ela, descendentes de alemães, todos muito brancos, olhos bem claros, louros...
Aos 11 anos, Anita e sua família tiveram que mudar-se a São Paulo. Veio quase a família toda, inclusive a sua avó, velhinha alemã, muito simpática e com uma imaginação tão grande quanto a sua doçura...
Um dia, Anita chegou em sua casa espantadíssima... sua avó ao vê-la assim quis logo saber o que havia acontecido... Então, Anita lhe contou que na escola nova, havia um guri que era marrom bem escuro!!! Claro, Anita estava falando de um menino que era negro... Até esse dia, ela nunca havia visto nenhum negro em sua vida... vidinha monóóóótona que levava no interior do Rio Grande so Sullll... Nem TV a pobre assistia, seu pai dizia que TV era coisa do demo, por isso não tinham uma...
Sua avó, que já havia visto pessoas negras, pensou, pensou e pensou... E, sem saber muito bem o que responder a sua neta, disse com um sotaque alemão bem carregado: “Ah, vai verr a menino que você viu erra feita de chocolata!”
“Nossa!!!! Menino de chocolate!!!!” – Pensou Anita...
No dia seguinte, Anita foi à escola, louca para ver de novo o tal “menino de chocolate”...  Entraram todos na sala e lá estava o menino... Chamava-se Antônio, mas todos os colegas o chamavam de Toninho.
Anita não tirava os olhos de Toninho... “De chocolate!!!” –pensava obsessivamente– “Deve ser gostoso...”
Coitado do Toninho... Se ele pudesse imaginar o que estava passando pela cabeça daquela menina...
Na hora do recreio, Anita viu que Toninho estava sentado comendo um pedaço de bolo, ela foi logo se aproximando dele... com uma carinha angelical... meio sorridente... Toninho que era muito educado, ao perceber que a menina estava praticamente em cima dele, disse um singelo “oi”... E como também era muito carinhoso estendeu-lhe a mão que segurava o pedaço de bolo e disse: “Você quer um pedacinho?”
E Anita, sem se fazer de rogada, ...“nhak” ... Deu uma dentada no braço de Toninho...
“Ahhhhiiii!!!!” –Gritou Toninho.
“Hum!?... Mas não tem gosto de chocolate...” –Pensou Anita.
A partir desse dia, claro, Toninho nem olhava para a Anita... “Vai que essa louca me morde de novo...”  –pensava.
Mas Anita estava encafifada... Se ele era de chocolate porque não tinha gosto de chocolate?...
Bom, o tempo foi passando, Anita já tinha uns 20 anos e era uma moça muito bonita... Toninho também havia crescido, tinha virado um rapagão... e bem bonitão... Ele fazia muito sucesso com as moças de seu bairro... Só não conseguia esquecer aquela mordida... E Anita, embora já estivesse familiarizada com pessoas negras, não tirava da cabeça o que a sua avó havia lhe dito...
Um dia, numa quermesse de bairro, Anita esbarrou num rapaz, virou-se para desculpar-se quando viu que era justamente o menino de chocolate, ou melhor, o agora ‘homem’ de chocolate... Fazia tempo que eles não se viam...
“Desculpa... Foi sem querer... Tudo bem Toninho?” –disse Anita.
“Sim, tudo bem... E você? Faz tempo que a gente não se vê, né...” –respondeu Toninho e continuou– “Sabe, tem uma coisa qu’eu sempre quis te perguntar... Por que aquele dia na escola, quando a gente se falou pela primeira vez, você me deu uma mordida no braço?”
Anita ficou vermelha de vergonha, mas não hesitou em responder: “É qu’eu achei que você fosse feito de chocolate...”
“De chocolate??? De onde você tirou essa ideia???” Então Anita contou para o Toninho o que a sua avó tinha falado sobre o porquê dele ser negro...
“Hahahahahahahahaha... Sua avó disse isso!?... Quanta imaginação!” –disse Toninho.
Anita também riu e disse: “Pois é, mas sabe, você não tinha gosto de chocolate... Ou tem... e eu mordi a parte errada...?”
Toninho ficou meio sem graça, mas... pegou Anita pelos braços e deu-lhe o maior beijo... Daqueles de cinema... A moça ficou sem fôlego... “E que gosto tem meu beijo?” –perguntou ele. Sem saber o que responder e completamente desorientada, Anita só conseguiu dizer: “Sei lá, me beija mais!!!!!”
E assim, ficaram a noite toda se beijando... E o tempo foi passando... E os beijos foram ficando cada vez mais ousados... Até que... Mesmo sem Toninho ser de chocolate e mesmo sem Anita ter-lhe comido algum pedaço, que por ventura fosse de chocolate, Anita ficou com a barriga ‘cheia’!!! Que coisa, né!? Mas isso não durou muito, depois de uns meses a barriga da Anita voltou a ficar ‘vazia’, pois nasceu o filhinho deles... Não era uma criança de chocolate, mas parecia um bombonzinho...   

Tanyno